A Importância da Representação nos Livros Infantis

Esta semana nós lemos três livros infantis: A Boneca Negra de Lara, Amora, e Da Minha Janela. Esta foi a primeira vez que li um livro infantil como uma “obra de literatura”, e ao começar eu tinha várias dúvidas:

  1. O que é o objetivo de um livro infantil? Para entreter? Para ensinar? 
  2. O que define um “bom” livro infantil? E como é diferente ou igual a um “bom” livro adulto?
  3. O que é a importância da representação nos livros infantis, e como ver a si mesmo representado em um livro pode afetar uma criança pequena?

Os três livros que lemos tinham em comum sua representação da cultura afro-brasileira, e seu retrato positivo da diferença. Parecia-me que o objetivo dos livros era principalmente ensinar as crianças a se amarem e a celebrarem suas diferenças. Achei que os dois livros que melhor cumpriram estes objetivos foram A Boneca Negra de Lara e Da Minha Janela. 

Gostei especialmente da “Boneca Negra de Lara,” porque acho que conseguiu mostrar muito bem a importância da representação na sala de aula. No livro, crianças pequenas têm a oportunidade de colorir em bonecas que se parecem com elas mesmas. Algumas têm cabelos encaracolados e pele escura; outras têm cabelos loiros e pele clara. É uma cena muito simples e pode parecer um pouco estranha e sem importância para um leitor adulto. Mas para uma criança de quatro ou cinco anos, o simples ato de se ver e aceitar sua individualidade é tão importante para o desenvolvimento. As crianças estão constantemente à procura de representações de si mesmas no mundo inteiro. Elas desenvolvem seu primeiro sentido de si mesmas através de suas interações com os outros, e através de se ver representadas no mundo exterior. Ao retratar a si mesmos e suas diferentes aparências, as crianças da classe podem aprender a se ver e a se sentir confortáveis em seus próprios corpos. 

Embora eu seja branca, eu entendo muito bem o que é ser uma criança que não se vê representada no mundo exterior. Cresci com mães lésbicas e soube desde pequena que minha família era de alguma forma “diferente”. Como uma menina, eu estava constantemente à procura de famílias como a minha. No início dos anos 2000, ainda havia muito poucas representações de famílias homossexuais nos livros infantis. Os poucos livros que eu tinha com famílias como a minha, eu apreciava como se fossem de ouro. Sempre me lembro destes livros: a maneira como as páginas se sentiam, as imagens, a maneira como me faziam sentir. Em meu livro favorito – Heather Has Two Mommies, por Leslea Newman – finalmente vi uma menina com uma família como a minha, com duas mães. No livro, uma menina começa a escola e seus companheiros de classe lhe perguntam sobre seu papai. Ela começa a se perguntar: era a única sem papai? A professora faz exatamente o que a professora da “Boneca Negra de Lara” faz: ela pede às crianças que desenhem retratos de suas diferentes famílias. No final do livro, a menina vê que todas as famílias de seus companheiros de classe são diferentes, e todas elas são lindas.

As crianças desenham retratos de sua famílias em 'Heather Has Two Mommies."

Espero que as crianças afro-brasileiras recebam a mesma alegria por ler estes livros infantis que eu tive lendo Heather Has Two Mommies. Cada criança merece se ver no mundo, e saber que elas são valiosas e bonitas assim como são.